Universidade dos Açores investiga potencial farmacológico de algas

Investigadores da Universidade dos Açores procuram identificar compostos químicos produzidos por algas e plantas terrestres existentes nas ilhas e suscetíveis de serem utilizados como medicamentos, nomeadamente no combate ao cancro, um potencial que ainda está por provar.
 

“Quer da parte da biologia, quer da parte da química estamos unânimes que temos aí potencial. Agora é preciso provar esse potencial. Estamos nessa fase”, afirmou à Lusa a investigadora Ana Seca, alegando que “em cada 20.000 compostos avaliados apenas um chega a ser comercializado” devido aos elevados valores envolvidos em testes e certificações.

Muitos dos medicamentos prescritos atualmente foram inicialmente descobertos na natureza, derivando de compostos bioativos produzidos por plantas, daí a importância dos estudos fitoquímicos, que permitem conhecer os constituintes químicos das plantas e descobrir novas moléculas biologicamente ativas.

A equipa de investigadores do departamento de Ciências Tecnológicas da academia açoriana dedica-se há vários anos ao estudo fitoquímico das plantas existentes no arquipélago, estando neste momento em curso duas investigações distintas, uma sobre o cedro do mato (espécie endémica dos Açores) e outra, mais recente, sobre algas.

Ana Seca adiantou que desde 2008 estão a ser estudadas as algas existentes em diferentes pontos da costa da ilha de S. Miguel, acreditando a investigadora que têm potencial “devido às características do mar dos Açores, temperatura, ondulação e limpeza”.

No caso do cedro do mato, única planta conífera dos Açores, não há para já nenhuma aplicação ao nível farmacológico, mas segundo Ana Seca estudos já realizados concluíram tratar-se de uma planta “muito resistente ao apodrecimento”, sendo que outras espécies do género são usadas como diurético, anticético e no tratamento de doenças como a artrite reumatoide, entre outras.

A investigadora revelou, ainda, estar neste momento a co-orientar o estudo de uma aluna da Universidade de Aveiro, iniciado em janeiro, à casca do cedro do mato, uma parceria entre instituições de ensino superior que considerou “uma mais-valia e facilitadores do aprofundamento da investigação científica”.

Segundo Ana Seca, o que demora mais nestes processos de investigação não é tanto isolar os compostos químicos, perceber a estrutura e a eventual aplicação farmacológica, mas sim a fase de comercialização, que “é muito dispendiosa”.

“A nossa equipa nos Açores não está vocacionada para esta parte. Há equipas que fazem trabalho base e outras que pegam nesse trabalho e continuam”, explicou, acrescentando que dos estudos já realizados nos Açores “ainda não foi identificado nenhum composto com um índice de atividade tal que equipas de outras fases se mostrassem interessadas em dar continuidade ao estudo”.

Os resultados obtidos pela equipa de investigadores açorianos tem sido dado a conhecer ao mundo, através da publicação de artigos científicos em revistas especializadas, assim como em reuniões e congressos internacionais.

No início de setembro, Ana Seca espera poder apresentar, na Alemanha, novos dados sobre as investigações, durante o congresso internacional da Sociedade para a Investigação de Plantas Medicinais e Produtos Naturais.

A investigadora disse, ainda, que mesmo as plantas invasoras nos Açores têm particularidades diferentes do que noutras paragens, algo que “merece ser devidamente estudado”, alegando que estas caracteristicas se devem à localização e formação das ilhas açorianas.

 

Lusa

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