O investigador, doutorado na Bélgica e antigo leitor na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, fez estas declarações, no sábado, num painel do fórum da Sociedade Luso-Americana dos Pós-graduados (PAPS, na sigla inglesa), que decorreu na Universidade de Toronto, no Canadá.
Subordinado ao tema “O renascer português: uma década de crescimento científico e cultural”, o 13.º fórum da PAPS, que junta alunos de pós-graduações universitárias e profissionais lusos no continente norte-americano, contou com as presenças do Embaixador de Portugal no Canadá, Pedro Moitinho de Almeida e do cônsul português em Toronto, Júlio Vilela.
Na abertura do encontro, o diplomata exortou a comunidade portuguesa a prosseguir os estudos e a melhorar as qualificações profissionais, apontando que “a realização deste fórum é um exemplo de que os portugueses podem fazer pós-graduações nas melhores universidades e trabalhar nas melhores multinacionais”.
Instado pela agência Lusa a explicitar o alerta que proferiu durante a sua intervenção, Miguel Soares vincou que, após a revolução de 1974, “Portugal conseguiu a massificação da educação, mas o nível de qualidade que existe nas escolas é baixo. As pessoas saídas das universidades não têm competitividade. Não há excelência. Não admira a elevada taxa de desemprego junto da população jovem”.
O responsável acrescentou que “para existir formação de alto nível há que mudar as universidades. E isso faz-se desde logo trazendo os melhores professores do mundo para formar as melhores pessoas do mundo”.
O investigador notou, por outro lado, que continua a verificar-se a fraca ligação entre os pólos científicos e a indústria, o que faz com que exista uma maior dependência do financiamento do Estado, para além de limitar a aplicação de inovações científicas junto das empresas.
Outro dos oradores presentes na sessão sobre “Inovação”, Cláudio Junkel, diretor do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Portugal, frisou que “a excelência custa muito dinheiro”, e revelou que, apesar da grave crise financeira vivida em Portugal, a sua instituição decidiu este ano não cortar o investimento para a investigação.
Tiago Forjaz, fundador da Fundação Talento, em Portugal, um dos convidados a falar sobre empreendorismo, referiu à Lusa o seu empenho em “promover o talento dos portugueses em todo o mundo e em todas as áreas de atividade”.
Apoiada numa rede social ‘The Star Tracker’, com 35 mil membros em 250 cidades em todo o mundo, esta fundação – ainda em fase de formalização legal – mantém a parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian no projeto “Ideias de origem portuguesa”, lançado em 2010.
“É notório que na última década a tecnologia ajudou a transformar a capacidade de partilhar os conhecimentos através das redes digitais”, observou Forjaz.
Porém, indicou, “continua a ser desejável uma maior ligação entre a investigação e a indústria. Aliás, devido à crise, as universidades não terão grandes opções que não sejam abrirem-se às empresas”, concluiu.
Durante este encontro foi anunciado o vencedor do prémio PAPS-LBC Leadership de 2011, o qual foi atribuído a Pedro Reis, atualmente professor assistente no MIT – Massachusetts Institute of Technology, de entre outros quatro nomeados.
Foi a primeira vez que o fórum da PAPS se organizou no Canadá, tendo nas edições anteriores decorrido em cidades dos Estados Unidos.
“A maior parte dos membros da PAPS está nos EUA porque é um reflexo dos programas de intercâmbio com as universidades americanas. No Canadá temos 14 núcleos de portugueses em várias cidades. Essa é uma razão porque escolhemos a organização no Canadá, para darmos uma maior visibilidade”, disse à Lusa Ricardo Vidal, presidente executivo da associação.
Este encontro da PAPS teve os apoios da TAP Portugal, Caixa Geral de Depósitos, Banco Espírito Santo, Able Translations Able Transports, Mass Dartmouth e LBC Leadership.
Lusa