Urgências em causa por excesso de horas extraordinárias

A urgência do hospital de Ponta Delgada pode ficar “em causa” na sequência da “indisponibilidade” dos médicos para ultrapassarem o limite legal de horas extraordinárias, lê-se numa carta de 106 clínicos enviada ao Governo dos Açores.
 

Num abaixo-assinado enviado ao secretário regional da Saúde, com 106 assinaturas, a que a agência Lusa teve acesso, os signatários recusam exceder o limite de horas extraordinárias anuais com a atual remuneração.

“Os signatários, médicos do HDES [Hospital do Divino Espírito Santo], após reunião aberta ao corpo clínico que teve lugar em 14 de março, mostraram indisponibilidade para ultrapassar o limite legal obrigatório de trabalho extraordinário/ano, nas atuais condições remuneratórias, o que poderá pôr em causa a cobertura dos serviços de urgência”, dizem os médicos ao secretário Regional da Saúde, Luís Cabral.

“Conscientes da necessidade de assegurar a assistência na urgência da população, quer pelas especialidades em presença física, quer em prevenção, vimos expressar a nossa disponibilidade para encontrar alternativas remuneratórias dignas do trabalho diferenciado que desenvolvemos”, acrescentam.

Os signatários do documento solicitam o agendamento de uma reunião antes da elaboração das escalas do mês de maio, visando encontrar uma “solução em conjunto”.

Também os internos complementares do hospital de Ponta Delgada enviaram um abaixo-assinado à administração, direção do internato médico e diretores de serviços da unidade, bem como à Secretaria Regional da Saúde, onde manifestam “ preocupação”, “receio” e “indignação” com a sua formação.

Os subscritores do documento consideram que a sua formação na sua “pluralidade de vertentes” está “ameaçada” pela prestação de um “número inqualificável” de horas extraordinárias que são necessárias à manutenção do funcionamento do serviço de urgência.

“São já vários os colegas que ultrapassaram as 200 horas – alguns até no limiar das 300 – no final do primeiro trimestre de 2013, e sem estas o serviço de urgência teria colapsado” , referem os internos do Hospital de Ponta Delgada.

Esta situação, dizem, está a ser “agravada” pelo “não cumprimento sistemático” das folgas e dos descansos compensatórios, “ganhando relevo” quando o futuro contratual se revela “sombrio” e as perspetivas de emigração se “instalam” nas suas mentes.

“Que não haja equívocos: jamais um interno deixou de correr para o hospital ou aí permanecer longas horas para além do previsto, sem qualquer remuneração, em situações cuja singularidade ou importância se revestisse de interesse para a sua formação”, declaram no abaixo-assinado.

Os internos complementares do Hospital de Ponta Delgada “receiam” pela sua segurança e dos utentes, estão “indignados” com o não reconhecimento do seu trabalho e com a “crescente indignação” da opinião pública que considera os médicos “sorvedores” do dinheiro dos contribuintes.

“Declaramos, de forma unânime e conjunta, que não continuaremos disponíveis para prestar trabalho no serviço de urgência da nossa instituição para além das 12 horas obrigatórias que integram o nosso horário de 40 horas, mais do que 12 semanais ou 48 horas mensais”, referem no abaixo-assinado.

 

Lusa

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