“A viola tinha grande importância social, fazia parte do dia a dia e até do dote. Servia de ornamento em cima das camas e, mesmo quem não tocava, tinha uma viola da terra, mas isto foi-se perdendo ao longo dos anos”, afirmou Rafael Carvalho, presidente da Associação de Juventude Viola da Terra, em declarações à Lusa.
Numa tentativa de “valorizar e divulgar as diferentes técnicas e execuções” da viola da terra, que tem “características específicas em cada ilha”, a associação organizou o I Encontro de Violas Açorianas, que termina hoje.
Rafael Carvalho, professor no Conservatório de Ponta Delgada, recordou que, no passado, o tocador de viola da terra tinha um papel de destaque nas freguesias, surgindo logo depois do regedor e do padre.
“A pessoa que tocava viola era uma figura muito importante porque impulsionava o convívio”, salientou, admitindo, no entanto, que a viola da terra “caiu um pouco em desuso” por força da emigração, que fez com que fossem “cada vez menos os grandes mestres solistas”.
A arte de tocar ficou circunscrita à família de tocadores, mas Rafael Carvalho assegurou que a viola da terra “não desapareceu” e está a passar por “um processo de reativação, com cada vez mais interessados”.
“Atualmente, este instrumento musical assume maior projeção pelo seu papel solista em S. Miguel e Santa Maria, mas tem importância cultural em qualquer uma das ilhas”, frisou.
Nesse sentido, salientou que a viola da terra tem aparecido em diferentes contextos, desde orquestras a grupos de cantares, que têm feito “outras abordagens” ao reportório tradicional, o que “cria interesse”.
“Os mais novos mostram interesse pela aprendizagem no conservatório”, revelou, destacando também a certificação de formadores que possam assegurar o ensino e uso desta viola.
Por outro lado, a Associação de Juventude Viola da Terra vai reativar a escola de violas, dispondo de três formadores certificados pela Direção Regional da Cultura.
A viola da terra, que produz um “som característico proveniente do encordoamento de 12 cordas”, também é conhecida como viola de arame ou viola de dois corações, sendo semelhante ao violão, mas de dimensões mais pequenas.
Uma das suas características é a existência de dois corações, com as pontas em sentidos opostos ligados por um coração mais pequeno, em vez do buraco existente no tampo.
Lusa