Que os Açores têm um atraso estrutural de décadas, no que aos níveis de educação e de literacia dizem respeito, não será novidade para ninguém. Que, tendo em conta este ponto de partida, há progressos alcançados inegáveis, apesar de insuficientes e permanentemente penalizadores, também não oferecerá grandes dúvidas. Que este défice de educação é o principal entrave ao desenvolvimento da nossa Região e à perpetuação da pobreza, parece-me cada vez mais consensual. Que tem faltado um rasgo de ousadia e de criatividade, na(s) política(s) educativa(s) regionais, no sentido de combater activamente este flagelo invisível, é algo que eu e outros/as defendemos, desde há muito.
Dito de outra maneira, nesta área, chegámos a um ponto, em que todos os “ProSucessos” – planos integrados de promoção do sucesso escolar, que elegem como principal objectivo a redução da taxa de abandono precoce da educação e da formação, bem como o aumento do sucesso escolar – serão (pelo menos, deveriam ser!), não só bem-vindos, como acarinhados e apoiados. Até porque não se trata, nem de atacar, nem de denegrir, nem sequer de competir com o Pro Sucesso, actualmente, existente. Bem pelo contrário! A oferta de modelos de ensino-aprendizagem diversos e alternativos, só pode ser vista como uma mais-valia necessária (diria mesmo urgente!) e complementar. Ah! E o facto de estes diferentes modelos poderem coexistir, dentro do sistema público de ensino, é a melhor garantia de que a tão propalada ‘igualdade de oportunidades’ não é um mero chavão.
Ora, se aceitarmos como bons todos estes argumentos, não poderemos deixar de saudar o Projecto Novas Rotas, recentemente levado ao nosso Parlamento, sob a forma de uma Petição subscrita por mais de 1000 cidadãos/ãs. Implementar, na escola pública, uma via para a criação de um espaço inovador e alternativo, onde “as experiências, o aprender a ser, a fazer, a relacionar-se e a experimentar o prazer da aprendizagem e do desafio” seja uma constante; enfim, uma escola que responda à urgência, já não de se reformar, mas de se transformar, “personalizando e não uniformizando a educação, descobrindo os talentos de cada criança, colocando os estudantes num ambiente onde queiram aprender e onde podem, naturalmente, descobrir as suas verdadeiras paixões”.
De tão bem que soa, parece até ser uma utopia…mas não é – como, aliás, tem sido comprovado, em várias experiências, bem sucedidas, no território nacional. Sendo assim, o que é que nos falta – aqui, nos Açores -, para que mais este instrumento de luta pelo ProSucesso seja uma realidade? Realmente, falta-nos a coragem e a vontade política da Secretaria Regional da Educação, para dar toda a força e reconhecimento a este projecto. Burocraticamente, falta que uma Unidade Orgânica da Região – após a aprovação pelo conselho pedagógico e pela assembleia de escola – apresente à tutela uma proposta de contrato de autonomia, através do qual se definam objectivos e se fixem as condições que viabilizem o desenvolvimento do projecto educativo Novas Rotas.
Numa palavra, falta VONTADE, já não só de ‘pensar fora da caixa’, mas, sobretudo, de começar (finalmente!), a ‘agir fora da caixa’ (a ideia não é minha, mas não resisti a roubá-la)… Falta reconhecer que a esmagadora maioria dos/as nossos/as docentes se confronta, diariamente, com a total impossibilidade de conciliar currículos e programas impostos, com ritmos de aprendizagem individuais, legítimos e respeitáveis… Falta proporcionar uma alternativa credível (mais uma e tantas quantas necessárias) ao combate pela educação, pelo conhecimento, pelo progresso.
Começamos quando?!
Zuraida Soares | Abril 2018